Religiosa retorna ao Brasil após 25 anos de missão na Europa e África

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Por Roseli Lara| 27.04.2015| Irmã Marlene Elisabete Wildner (CS) assume a direção do Centro Scalabriniano de Estudos Migratórios (Csem) em Brasília, depois de longa trajetória em serviços de ajuda humanitária. Diretora da Cáritas de Angola até setembro de 2014, irmã Marlene refere-se com saudade aos mais de dez anos que viveu em Angola.

O país da costa ocidental da África, foi palco de dois grandes conflitos. Primeiro foi a guerra pela libertação do domínio português e em seguida a guerra civil interna.

“Me acostumei a viver nas matas’’ diz a irmã, que chegou a Angola em plena guerra civil. O conflito interno durou de 1975 a 2002. Com o fim da guerra civil, a missionária acompanhou o delicado processo de repatriação de milhares de  angolanos e de reinserção dos mais de 3,2 milhões de deslocados. A experiência marcante, a faz recordar detalhes da convivência com o povo angolano, como o encontro com uma menina que vivia na mata e que não tinha nome.

Trajetória

A trajetória da atual diretora do Centro Scalabriniano de Estudos Migratórios (Csem) fora do Brasil, começou aos 24 anos, quando irmã Marlene Wildner foi enviada à Alemanha pela Congregação das Missionárias de São Carlos Borromeo, Scalabrinianas.

Ela recorda que sua congregação decidiu fazer uma experiência de intercâmbio entre religiosas. “Dou graças a Deus que aceitei e fui”, garante. Na Alemanha acompanhou imigrantes italianos e projetos de integração entre jovens brasileiros e alemães, em áreas de exclusão.

Em seguida foi enviada para Itália e em Roma, além de concluir estudos, teve a oportunidade de trabalhar com as mulheres latino-americanas, juntamente com seminaristas e padres scalabrinianos.

De Roma para Joanesburgo, África do Sul. A arquidiocese sul-africana estava decidida em abrir um serviço específico para refugiados e junto com outra missionária, irmã Marlene aceitou uma nova frente de missão.

Com o sim das duas irmãs, a Congregação iniciava em Joanesburgo, outra grande obra com um centro de acolhimento para refugiados, que desenvolve ainda hoje uma série de projetos.

Cáritas

Durante 40 anos, a Cáritas de Angola, instituição da Igreja Católica, teve um papel decisivo na ajuda humanitária à população afetada pela guerra. Segundo a religiosa, a Cáritas foi a única instituição que conseguiu chegar a todo território nacional, durante a guerra, levando suprimentos, como alimentos e remédios, e dando suporte aos missionários.

A missionária foi chamada para Angola em 2000, ainda dentro do processo de pacificação. “Foi uma das experiências mais ricas que eu tive, embora nem sempre feliz. Eu pude participar do processo de repatriação dos refugiados angolanos e dos programas de reinserção. Em uma semana, em 2010, chegaram 67 mil refugiados, repatriados do Congo para Angola. E a Igreja foi a primeira a chegar com ajuda”, relata.

Desta vez, irmã Marlene chegou sozinha ao país, para assumir inicialmente a direção do Serviço Jesuíta de Apoio aos Refugiados (JRS) e mais tarde, foi chamada pela Conferência Episcopal de Angola, para a direção nacional da Cáritas.

“Em tempos de paz, os bispos me pediram para assumir a reorganização da Cáritas. Fizemos então o reforço institucional, com renovação de documentos, estatuto, diretório para as dioceses, plano estratégico e muitos treinamentos para lideranças”.

De acordo com irmã Marlene Wildner, a Cáritas é ainda hoje  responsável por grandes campanhas nacionais de ajuda, como por exemplo, em 2014, quando o sul do país foi duramente afetado por uma longa estiagem.  Em Angola, apesar da riqueza de recursos naturais como a exploração de petróleo, perto de 70 por cento da população vivem na linha da pobreza.

“A Cáritas é o braço de caridade da igreja e além das campanhas em tempos de emergência, trabalha também no âmbito do desenvolvimento, ou seja, em projetos de alfabetização, profissionalização, agricultura sustentável e desenvolvimento rural, entre outros“.

Novos rostos da migração no Brasil

A guerra civil e a perseguição religiosa estão entre as principais causas atuais da saída forçada de milhões de pessoas no Oriente Médio e norte da África. São quatro milhões de sírios vivendo como refugiados em países de fronteira e perto de 10 milhões de deslocados internos.

Outros milhares, não só de sírios, mas de várias nações da África, morreram em cemitérios sem cruzes, no mar e nos desertos, em travessias de vida ou morte. Só neste ano, já foram duas mil mortes, na costa italiana.

Já o Brasil presencia desde 2010, a chegada dos novos rostos da migração. Entre eles, estão os  haitianos (em torno de 50 mil); senegaleses, paquistaneses, sírios, ganeses, congoleses e o fluxo sempre contínuo de latino-americanos, que são a maioria entre os imigrantes internacionais.

Segundo o Ministério da Justiça, o país tem cerca de 2 milhões de estrangeiros, menos de um por cento da população. O número de refugiados está em torno de 7 mil, com outras 8 mil solicitações de refúgio em análise.

Milhões de refugiados 

“Para mim é pouco, porque eu venho de um continente onde não se fala de mil, se fala de milhões. Onde não se vê mil, se vê milhões”, compara irmã Marlene ao analisar a chegada dos novos imigrantes ao Brasil.

“Então para mim a situação do Brasil é de fato comparativamente bem pequena. Mas eu acho que é bom que esteja acontecendo isso. Eu acho que é uma chamada à caridade, à solidariedade e ao valor da hospitalidade. Para a igreja e para a sociedade brasileira”.

A irmã scalabriniana observa também que os imigrantes que chegam ao Brasil, não são os mais vulneráveis e chama atenção para a necessidade de solucionar as causas da migração forçada.

“Porque eles chegam de um mundo, de países e de continentes explorados e abandonados. Nós temos muito a caminhar, de não ficarmos só olhando para os novos probleminhas e olharmos para o mundo, sobretudo para este mundo esquecido, onde inclusive o Brasil vai buscar muitas riquezas no continente africano. Então eu acho que é um sinal dos tempos, porque temos que voltar a alguns valores na sociedade brasileira”, exorta.

A Diretora do Centro Scalabriniano de Estudos Migratórios (Csem) esclarece também que aqueles que os mais pobres, entre os pobres, não conseguem migrar. “Porque para que um africano chegue ao Brasil, tem que conseguir algum dinheiro. Durante a viagem eles empobrecem, eles chegam sem nada. Mas no momento da partida, os que partem, não são os mais vulneráveis. Não devemos esquecer de olhar os países de onde eles vem, porque as causas da migração não são trabalhadas, aquelas que forçam a migração”, ressalta.

Internacionalizar o Csem

De acordo com a diretora do Centro Scalabrinianao de Estudos Migratórios, o Csem surgiu para ser uma referência, onde através dos estudos do ambiente migratório, todos os que acompanham as frentes migratórias possam encontrar conhecimento qualificado.

Objetiva ainda tornar visível para a igreja e para sociedade, a realidade migratória, com pesquisas que possam interferir em defesa dos direitos dos migrantes.

Outro propósito do Csem é estar voltado às atividades internas da Congregação das Missionárias Scalabrinianas. “O interesse do Csem agora é internacionalizar o seu trabalho, porque a Congregação está em 27 países. Nós estamos também revendo nossas estratégias,” acentua irmã Marlene.

Como atividades principais, a diretora cita o trabalho com duas grandes pesquisas no campo migratório que serão divulgadas a médio prazo;  o lançamento de um livro em agosto de 2015, com uma coletânea de vários autores; a publicação da resenha temática trimestral; a publicação da Revista Interdisciplinar de Mobilidade Humana(Remhu); manutenção do site e da biblioteca online e a distribuição semanal de notícias.

O Centro Scalabriniano de Estudos Migratórios está sediado em Brasília. Conheça emhttps://www.csem.org.br/ 

Fonte: POM

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