Palavra da presidente da CRB na 55ª Assembleia dos bispos do Brasil

Compartilhe nas redes sociais

Compartilhar no facebook
Facebook
Compartilhar no whatsapp
WhatsApp
Compartilhar no twitter
Twitter
Compartilhar no telegram
Telegram

Caríssimos Irmãos, Pastores da nossa Igreja do Brasil.

Com muita alegria e comunhão, acolho esta oportunidade de dirigir aos senhores, breves palavras, em nome de todos os religiosos e religiosas do Brasil, que garantem a unidade, na grande e desafiante missão de evangelizar!

Somos mais que conscientes do momento desafiante em que vivemos e a Conferência dos Religiosos do Brasil continua conclamando a vida consagrada a ser fiel à sua identidade e missão na Igreja. A 24ª Assembleia Geral da CRB, em julho de 2016, nos convidou a implorar do Senhor olhos novos para enxergar o que está brotando…Escolhemos enxergar de novo! Escolhemos como primeira prioridade “integrar mística e profecia”! E enxergar é coisa de místico e também de profeta que indica caminhos, particularmente em tempos de crise. Quando os poucos caminhos se fecham o profeta levanta a esperança do povo com setas que abrem novas trilhas em nosso carisma de Consagrados e Consagradas.

Há pouco tempo a CIVCSVA nos anunciou a revisão do Documento “Mutuae Relationes” o que acolhemos com muita esperança e já enviamos as nossas sugestões. Tem sido objeto de nossas breves ou longas intervenções junto aos Institutos de Vida consagrada e nos contínuos encontros e Assembleias da CNBB.

Os dons hierárquicos e os dons carismáticos são co-essenciais para a eclesiologia de comunhão e não é possível valorizar demais um e sobrepor o outro. A eclesiologia de comunhão cresce e se espalha quando há unidade na diversidade, onde há valorização e inclusão e não, disseminação e dispersão.

Acima de tudo no seu ambiente (contexto eclesial) a vida consagrada, nas suas várias formas é valorizada pela sua IDENTIDADE COMO TESTEMUNHO de uma forma particular de “Sequela Christi”. Esperamos que nosso Pastores não nos valorizem apenas pela funcionalidade.

Citando o Papa Francisco: “É necessário que a mulher não seja somente mais ouvida, mas que a sua voz tenha um peso real, uma autoridade reconhecida, tanto na sociedade como na Igreja” (“Procurar harmonia entre homem e mulher” – Audiência Geral na Praça São Pedro – 15/04/15)

Ainda permanece a idéia de que primeiramente por ser mulher, e depois por ser religiosa, ela ainda, na sua maioria, é excluída.

O papa Francisco nos diz que a vida consagrada é “um dos tesouros mais preciosos da Igreja”(Audiência à Plenária da Congregação para os Institutos de Vida consagrada – 28/01/17). Ele nos convida a ir com paixão, para onde for necessário, para todas as periferias, anunciar Jesus Cristo aos mais afastados, aos pequenos, aos mais pobres e deixar-nos evangelizar por eles

É uma graça ter uma comunidade religiosa no bairro, na paróquia ou diocese, mesmo com os grandes desafios de hoje, com a falta de membros e o envelhecimento.

Convido os senhores, com todo carinho, a priorizar:

· A valorização dos diferentes carismas na Igreja, principalmente por parte da maioria dos presbíteros;

· A abertura para a vivência dos carismas no espaço eclesial ao mesmo tempo a contribuição das religiosas no espaço de evangelização, seja na dinamização ou na formação nas diferentes pastorais;

· Os estudos, reflexões, cultivo da espiritualidade e lazer feitos em conjunto presbíteros, religiosas e religiosos;

· A contribuição das religiosas e dos religiosos através da presença e atuação, com os demais membros da comunidade eclesial: leigos, diáconos, sacerdotes e bispos, favorecendo o crescimento da unidade eclesial e o sentido de pertença a Igreja como único Corpo de Cristo, povo de Deus que caminha na esperança.

O documento de Aparecida (Dap), número 156, nos recorda que a experiência humana de comunhão, torna-se nos dias atuais, mediação para a compreensão de Deus que é COMUNHÃO TRINITÁRIA E DA SOLIDARIEDADE JUNTO AOS CRUCIFICADOS DA TERRA. Reconhecemos nossos comuns limites e confiamos que nossos pastores continuarão atentos:

· À pouca valorização da vida consagrada na Igreja, tanto por parte de presbíteros como de bispos. O exercício do poder de forma errônea por parte de muitos, os distancia dos consagrados, consagradas e leigos;

· À falta de uma formação mais orgânica que prepare os presbíteros para valorizar os diferentes carismas presentes em sua paróquia, dentre eles a vida consagrada, promovendo um trabalho em conjunto e dando oportunidades para conhecer e viver o carisma da vida consagrada na Igreja e junto aos leigos;

· Há rigidez nas regras, nas vestes, no poder, tanto por parte da vida consagrada, como também na Igreja, isso cria tensão e dificuldades de permanecer no essencial, que é o anúncio do Evangelho. A preocupação com coisas secundárias e não com o essencial da evangelização distancia hierarquia e vida consagrada;

· Às situações rígidas, fechadas, criam também pessoas tristes, amargas com dificuldade de relações sadias e verdadeiras;

· Questões não resolvidas na área afetivo-sexual acabam criando situações desagradáveis na ação da Igreja, sendo um contratestemunho;

· Pouca valorização e inclusão dos diferentes carismas na Igreja local no que diz respeito ao todo da dinamização da Ação Evangelizadora;

· Os consagrados são considerados mais executores do que pessoas que contribuem para pensar a própria caminhada eclesial; presencia-se ainda grande desigualdade no suprimento das necessidades das religiosas, com contribuições que chegam a ser injustas no que se refere ao trabalho que exercem;

· Pouca presença dos presbíteros nos espaços onde a vida consagrada atua (educação, saúde e assistência social). Restringem-se à administração dos sacramentos e a parte burocrática da paróquia e alegam falta de tempo para marcar presença junto às crianças, aos jovens especialmente, às famílias, aos mais pobres e vulneráveis. Isso acaba criando um distanciamento e perde força de uma Igreja de comunhão, de unidade. O hierárquico parece ganhar força em detrimento ao carismático.

· Muitas vezes o pouco acesso à formação profissional, à investigação científica, ao emprego remunerado, aos lugares de decisão, não lhes dá uma boa qualificação por parte dos consagrados mantendo-os em espaços inferiores às reflexões eclesiais e consequente participação nas decisões.

· Muitas vezes, a exclusão ou a não valorização da mulher consagrada na Igreja parte dela mesma. Exemplo quando se trata da preparação e produção acadêmica. Diante de tantas coisas para dar conta numa dupla jornada de trabalho, às vezes, o espaço para se preparar fica em segundo plano. Diante deste fator reforça-se o patriarcalismo assumido pelas várias instâncias tanto eclesiais, quanto sociais e culturais.

Na Terra da Padroeira do Brasil, nos 300 Anos do encontro da pequenina Imagem, imploramos bênçãos a todos os nossos pastores, consagrados e consagradas do nosso querido País.

Ir.Maria Inês Vieira Ribeiro, mad

Presidente da CRB Nacional

Publicações recentes