“Ou somos místicos ou não somos nada”, diz teóloga da PUC-Rio

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Por Rosinha Martins| 09.04.2015| O Congresso Nacional da Vida Consagrada trouxe nesta quarta-feira, 8, reflexões sobre as manifestações de Deus como mistério (a mistagogia) com provocações para os religiosos e religiosas. O tema foi assessorado pela mistagoga, assessora da CNBB e da Rede Celebra, Rosemary Fernandes da Costa, que destacou a necessidade de voltar às fontes para melhor acolher o mistério de Deus.

O evento que acontece esta semana em Aparecida (SP), reúne mais de 2 mil religiosos e religiosas de todo o Brasil.

Na opinião da assessora, o grande desafio para a Vida Consagrada é focar em sua identidade. “Nós perdemos a água mais pura e ficamos bebendo água genérica longe da fonte, mas se bebermos na água dos fundadores e da patrística, do Evangelho, a encontraremos”, disse.

O que se faz necessário aos religiosos, afirma, “é voltar às fontes, não como uma medida nostálgica ou mecânica de repetir como papagaio, mas retomando essa pureza, essa pérola que está na fonte, adaptando-a à realidade local”.

De acordo com Rosemary, os religiosos têm o tesouro nas mãos, Aquele que os chamou. Tarefa da Vida Consagrada é tomar este tesouro e se perguntar o que fazer para que o homem e a mulher de hoje encontrem a Deus no cotidiano. “É muito mais simples do que a gente pode imaginar. É largar de mão coisas que estão nos distraindo. Nos distraímos com plano de aula, com planejamento da comunidade. Precisamos focar, concentrar de novo na mistagogia como tesouro precioso que Deus deixou pra gente”, enfatizou.

Rosemary deixou claro que identidade e mistério andam de mãos dadas, pois quando a pessoa descobre a sua identidade, consequentemente renova a sua atitude, deixa de ter medo. “Uma pessoa apaixonada não tem medo de dizer que ama. Então, precisamos nos apaixonar de novo. O amor brota e está em nós como já está nos outros, mas não confiamos nessa verdade. Achamos que somos nós que colocaremos o amor de Deus no coração de uma criança? Ele já está lá. A pergunta é o que eu posso fazer para movimentarmos o mundo. A vida Religiosa, como diz Paulo Suess, não pode ficar encalacrada num casulo, nela mesma. Ela tem uma missão, tem que sair de si”.

A identidade, segundo a assessora, chama para uma atitude profética. Quando a pessoa se descobre como ser-no-mundo e ser alguém que liga, religa, isto é, religioso, tem que estar atento aos dois lados, o que quer dizer, a Deus e os homens, pois esta atenção leva a uma atitude profética.

Rosemary fez alusão ao teólogo Karl Rhaner, para quem ‘ou seremos místicos ou não seremos nada’. Segundo ela, esta é uma pergunta para a identidade. “Ser místico é aceitar a acolhida do mistério e conduzir outras pessoas, o que é dialético. No que eu aceito, eu conduzo. Se eu me coloco à frente, por exemplo, sou uma catequista e vou anunciar Jesus Cristo, e me coloco na frente, já deu problema, porque eu sou apenas um mediador, quem está frente é Jesus”.

No parecer de Rosemary a mistagogia sempre requer um método, que é fruto de um fundamento. “Na hora que descubro este amor de Deus na minha vida e na vida do outro, preciso saber o que farei para chegar perto dele: ler um jornal juntos? Vamos dividir um prato de comida, vamos fazer um pão? A mistagogia vai me apontar para um método”.

Para a assessora durante muito tempo a Igreja fez o caminho inverso priorizando o método em detrimento do fundamento. “Então temos método de catequese, método de ler a Bíblia. Mas o método brota do fundamento. Do século IV pra cá a Igreja viveu um processo de defesa da metodologia e da doutrina, perdemos o fundamento. O que temos que fazer agora é pegar esta fração que estava de cabeça para baixo e colocar pra cima de novo. Primeiro Jesus, depois a doutrina”, sugeriu.

Esse método requer uma escuta da realidade na qual o religioso está inserido. Para ilustrar o que queria dizer, a assessora convidou o grupo a cantar um samba e em seguida explicou: “Por isso que eu cantei o samba. Para dizer que é que geralmente a gente faz? Colocamos o samba de lado e colocamos um canto de Igreja. O povo aprende o canto da Igreja e canta o samba fora da Igreja”.

A sugestão de Rosemary é que, se por dificuldades locais não se pode, por exemplo, cantar o samba na Igreja, que se cante no círculo bíblico, aproximando e dialogando com a realidade das pessoas que exclamam: “a gente já cantava, então a gente sabia quem era Deus. Ele estava aqui no meu coração, na minha composição!”.

E concluiu dizendo que “Jesus é o Mistagogo por excelência. Sabe o que vai fazer. É astuto, tem uma estratégia e essa não é arrogante”.

Ainda, conforme Rosemary, os seres humanos hoje estão longe de si e por isso mesmo muito longe de Deus. A missão dos Religiosos nas escolas, Igrejas, onde quer que estejam é resgatar a paixão inicial de cada pessoa e ajudá-la a perceber que Deus não está longe, mas está dentro dela, no fundo dela e que é este o sentido da vida. “Assim, nós estaremos não só dando razão à missão que assumimos um dia, mas provocando que essas pessoas também abracem cada um, do seu jeito, a sua vocação existencial”.

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