O clamor dos indígenas guarani-kaiowá no Dia de Oração pelo Cuidado da Criação

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Por Rosinha Martins| 02.08.2015| No dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação, já apelidado por muitos por “Dia da Criação”, uma celebração ecumênica levou até a Catedral metropolitana de Brasília, indígenas, camponesas, padres, pastoras, bispos, religiosas, leigos e leigas das Igrejas que fazem parte do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC).

Durante a celebração, os indígenas Guarani-Kaiowá, Daniel e Anastácio Xirukarai dirigiram a palavra aos participantes com um lamento pela  morte do jovem indígena guarani- kaiowá, Simeão Vilhalva, 24, assassinado com um tiro na cabeça, no dia 29 de agosto, no município de Antônio João, no Mato Grosso do Sul.

“Estamos sofrendo, chorando, implorando e pedindo socorro para que a justiça aconteça neste país. Somos povo humilde, que apenas queremos viver em paz.  Nós, guaranis-Kaiowá queremos dar dignidade de vida para as nossas mulheres,  nossos filhos, nossos avós e irmãos”, disse  o Kaiowá, Anastácio Xirukarai.  “Graças a Deus, acrescentou, não matamos nenhum fazendeiro, nenhum produtor rural, enquanto eles já mataram mais de 300 de nossas lideranças”.

Dirigindo o olhar para o secretário-geral da CNBB, dom Leonardo Steiner e outras lideranças religiosas, Xirukaraí demonstrou  a confiança e a credibilidade que as populações indígenas depositam nas Igrejas. “Nós confiamos em vocês! Acreditamos que vocês podem dialogar com o governo e com todas as instâncias de poder para que possam devolver as nossas terras. Nós só queremos viver”, suplicou.

Xirukarai fez referência à morte de Simeão e pediu orações para o seu povo. “Estamos sofrendo com a morte de nosso companheiro Simião Vilhalva.  Que  vocês possam rezar conosco para que possamos viver em paz no nosso Mato Grosso do Sul”.

Em protesto pelo assassinato de Simeão, manifestantes acenderam 300 velas, pregaram cartazes e várias cruzes em frente a Famasul (Federação de Agricultura de Mato Grosso do Sul). Com carro de som, cerca de 100 pessoas, carregaram um caixão, e fizeram a encenação de um velório, para lembrar Semeão Vilhalva.

“A terra é mãe. Ela é quem nos cria”

O guarani-kaiowá Daniel, fez memória do descobrimento e chamou a atenção para os males que este fenômeno causou à natureza e populações nativas que aqui já existiam. “Quando pensaram em fazer desta terra um país não levaram em consideração a natureza e os povos que já habitavam aqui. Envenenaram a água, acabaram com a nossa vida, com os animais, e com a mãe terra. Terra é mãe, ela é quem nos cria”, enfatizou.

Natureza e justiça estão intimamente ligadas

Em consonância com o clamor dos guaranis-kaiowá, o secretário geral do Conselho Mundial de Igrejas, o pastor norueguês, da Igreja Luterana, Rev. Olav Fykse Tveit, que está visitando o Brasil,  destacou que ‘natureza e justiça estão intimamente ligadas entre si’. “As pessoas que vivem mais próximo da natureza, entre elas os povos indígenas, tem muita sabedoria a partilhar sobre como nós precisamos tratá-la fim de evitar que ela se torne nossa inimiga”, afirmou.

Tveit ressaltou a necessidade que os seres humanos tem da natureza para permanência no planeta. “Todos nós precisamos da natureza, daquilo que ela oferece, a água, a comida que contém proteínas, carboidratos  e de tudo que está vivo neste planeta”.  Por isso, acrescentou, “é inaceitável a injustiça que impede muitos seres humanos de compartilhar esta vida saudável oferecida por ela”.

De acordo com Tveit, muitos teólogos latinoamericanos os tem ajudado a enxergar o profundo significado da graça de Deus  para os seres humanos. “A graça de Deus tem um poder transformador na Igreja e na sociedade. A história da América Latina é marcada por pessoas que levantaram suas vozes para defender, por exemplo, os direitos humanos, contra a ditadura militar”.

Ao se referir sobre este momento da história do Brasil, Tveit contou que documentos referentes ao “Brasil nunca mais”, que se encontravam nos arquivos de  Genebra foram entregues ao Procurador Geral da República. “Entregar estes documentos, para nós, foi uma forma de ajudar a fortalecer a memória do Brasil”, justificou.

O pastor concluiu dizendo que o ‘Dia da Criação’ é o dia da busca da unidade e que o mundo merece isso. “Uma vida de discipulado a Cristo nunca pode ser uma vida de egoísmo em detrimento do outro e particularmente contra aqueles que são menos privilegiados”.

Camponesas preparam Coquetel com produtos naturais para celebrar o ‘Dia da Criação’.

O Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação contou com a participação especial das mulheres camponesas, movimento social e autônomo de mulheres do campo, existente há  mais de 30 anos. Elas prepararam o Coquetel  com produtos naturais, próprios do cerrado: escondidinhos de mandioca, sucos naturais, pamonhas, entre outras guloseimas.

Filha de camponeses descendentes de alemães de Santa Catarina, Eridiane Seibert, 27, é membro da direção nacional do movimento. Ela falou sobre a participação das mulheres no Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação. “Participar deste dia, significa para nós, dar visibilidade aquilo que as mulheres fazem no seu dia-a-dia: cuidam da terra, produzem o alimento,elaboraram, passam essa cultura de geração em geração. Produzir o alimento saudável, gostoso, demonstra que elas fazem parte deste cuidado da criação para que todos nós possamos usufruir e gozar de uma vida mais saudável, um ambiente mais limpo, uma natureza preservada, linda. Elas tem um papel fundamental na conservação da criação”.

Veja mais imagens do Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação na Catedral Metropolitana de Brasília

 

 

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