Missionárias da Consolata revitalizam paróquia em Portelândia-GO

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Por Jaime C. Patias|07.08.14| O município de Portelândia é uma raridade no mapa brasileiro. Situado no sudoeste de Goiás, o lugar que já se chamou Córrego da Porteira é especial, não por seu nome, mas por se encontrar integralmente inserido no município de Mineiros, com quem tem todas suas fronteiras. Emancipado em 1963, Portelândia significa também Berço do Carro de Boi e Terra das Porteiras.

A comunidade católica vive situação semelhante à de muitos lugares no Brasil. O padre Humberto de Freitas Vieira, pároco em Santa Rita, cidade a 80 quilômetros, é também o responsável pela paróquia Nossa Senhora das Graças. Ele vai até Portelândia às quartas-feiras e domingos para celebrar missas e atender à comunidade. As pastorais e a administração são acompanhadas por três missionárias da Consolata, as Irmãs Maria Costa, Odete Martins e Bernardete Pickler. No início, as Irmãs Carleta Longo e Hortência Antunes da Silva também fizeram parte da comunidade.

É interessante notar que a escassez de padres está no princípio da Fundação da congregação das Missionárias da Consolata, em 1910. “Se não tiver padres enviam irmãs”. O pedido foi do padre Filipe Perlo em 1902, início da presença evangelizadora dos missionários da Consolata no Quênia, África. Desde Turim, norte da Itália, o padre José Allamano, que em 1901 já havia fundado o Instituto Missões Consolata constituído por padres e irmãos, pensa também nas irmãs.

Com cem anos de história e muitas frentes de missão em quatro continentes, as religiosas chegaram à cidade de Portelândia em agosto de 2012 onde, desprovidas de estruturas, ainda vivem numa casa da paróquia, que pertence à diocese de Jataí (GO). “Acredito que isso dá muito mais agilidade e leveza para a missão. Sem muito peso das estruturas tentamos ir ao encontro das necessidades realizando o que podemos. Dentro de nossas forças priorizamos a formação”, explica a Irmã Bernardete Pickler. Ao falar do projeto missionário da congregação naquela realidade, ela recorda princípios básicos de espiritualidade na missão. “A gente assume a missão com uma visão de itinerância e não perde de vista o foco que, em nosso caso é animação missionária vocacional e a formação de lideranças. Estamos entrando aos poucos e com os pés no chão”, enfatiza a religiosa.

A congregação chegou ao Brasil em 1946 com a finalidade de abrir casas de formação e preparar vocações missionárias para a missão Ad Gentes. Desde o início deram preferência aos estados do sul, nos quais, desde 1937, já trabalhavam os missionários da Consolata. Hoje elas estão presentes nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Goiás e no Distrito Federal. Um grupo atua também na região norte, em Roraima, Amazonas e no Pará.

Como metodologia, as religiosas herdaram do seu Fundador, o Bem-aventurado José Allamano, a capacidade de articular a evangelização e a promoção humana. “Gosto do povo e do trabalho das Irmãs por que elas estão animando as famílias”, diz Irmã Odete Martins, 83 anos. Fervorosa na oração e, por conta da idade, ela se encarrega mais dos afazeres da casa. Ainda assim, sobra tempo para visitar os enfermos e idosos nas casas e no hospital. “Considero-me uma visitadora e as pessoas gostam disso e pedem a minha presença, até reclamam quando eu demoro”, comenta com satisfação.

A realidade é de primeira evangelização, em que muitas famílias precisam de Iniciação Cristã. No Bairro das Populares onde vive cerca de cem famílias, a maioria trabalhando na indústria de etanol, um levantamento revelou que mais de 50% não recebeu nenhum sacramento. Irmã Bernadete conta que, em uma rua com 30 famílias nenhuma delas é casada na Igreja. A grande maioria é católica, mas não frequenta a Igreja porque se sentem excluídos pelas condições em que vivem. “Diante disso, nos perguntamos o que fazer para despertar essa sede de Deus. Já identificamos algumas mulheres que são líderes e pensamos em fazer formação para que sejam multiplicadoras”, explica.

Outro lugar que requer atenção é a comunidade São Pedro, povoado a 15 quilômetros da cidade de Portelândia. Lá existe uma capela que estava fechada e a pedido de dom José Luiz Majella, bispo da diocese de Jataí, foi reaberta. No passado havia catequese e até uma escola, mas a maioria dos cristãos migrou para outros lugares. Os que permaneceram passaram para outras igrejas ou já não frequentam a comunidade. Com a chegada das missionárias, a Pastoral da Acolhida começou um trabalho de motivação para reanimar a comunidade. “Manter a capela aberta já é algo importante, mas agora precisamos trabalhar com as famílias”, destaca Irmã Maria Costa, responsável de acompanhar a Pastoral.

As chaves da capela ficam com dona Ivone. Seus filhos, Tiago (18) e Elisabeth (16) estão animados e querem a volta da catequese na comunidade. Seu Joaquim, que havia começado a frequentar uma igreja evangélica, agora decidiu voltar para a “casa da mãe católica”.

Mais adiante, seguindo pela rodovia, encontra-se um Assentamento do INCRA e uma Comunidade Quilombola. Com o avanço do agronegócio e a ocupação das terras por agricultores vindos de fora, os acampamentos na Região Centro-Oeste são comuns. A economia está baseada na agropecuária, tendo como principais produtos a soja, milho, cana de açúcar, gado de corte e leiteiro. Com aproximadamente 4.500 habitantes, a cidade de Portelândia tem uma localização estratégica: está a 500 quilômetros de Cuiabá (MT), a 400 de Campo Grande (MS) e a 500 de Goiânia (GO). Além dos serviços públicos na administração, educação e saúde, prevalece o comércio em geral. As fazendas e uma usina de etanol, situada no município vizinho, absorvem a maior parte da mão de obra disponível. Os jovens saem para estudar em outras cidades em busca de oportunidades.

Segundo Irmã Maria Costa, a situação de abandono e a fraca participação dos paroquianos, foram as principais motivações para que dom José Luiz Majella, solicitasse a presença das Irmãs em Portelândia. “O bispo de Jataí nos pediu para ajudar o povo a voltar a acreditar na Igreja, pois a comunidade está marcada por experiências negativas causadas, infelizmente, por sacerdotes há alguns anos atrás. Muitos cristãos se afastaram. Dom Majella pede que nossa presença seja de muita alegria e esperança”.

A missionária recorda que, diante do convite do bispo, fizeram-lhe também “a proposta de realizar animação missionária e vocacional para colaborar no crescimento da Igreja local, na sensibilização da dimensão universal da vocação cristã”. Com isso, “o bispo nos abriu as portas em toda a sua diocese”, comenta.

Em Portelândia a primeira igreja foi inaugurada em 1953. Em 1962 deu-se início à construção de uma segunda igreja que, por motivo de segurança, foi demolida em 2012. Com isso, a comunidade católica construiu uma nova igreja ainda em fase de acabamento.

Desde a sua chegada, as missionárias foram observando a realidade e apoiando as atividades pastorais. Ao perceber as dificuldades de comunhão, lideraram uma reflexão sobre o tipo de paróquia que a comunidade desejava construir. Durante um ano, foram feitos estudos sobre as Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (DGAE), o Documento de Aparecida e o estudo da CNBB (n.104): Comunidades de comunidades: uma nova paróquia, hoje Documento da CNBB (n. 100). A reflexão culminou com a 1ª Assembleia Paroquial de Pastoral que traçou uma radiografia da comunidade. “Foi um momento forte de comunhão e participação”, recorda Irmã Maria Costa.

Assim surgiu o Plano de Pastoral Paroquial em sintonia com as urgências do Plano Diocesano para o quadriênio, em que foram escolhidas as seguintes prioridades: paróquia em formação permanente, decididamente em Missão e comunidade de comunidades. As famílias, os jovens e os cristãos que se afastaram da comunidade, também ganham atenção especial. “Muita coisa bonita foi feita até agora, mas precisamos progredir ainda mais, a exemplo de Jesus Cristo que se doou e nos amou até o fim”, finaliza Irmã Maria Costa.

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