Estado Islâmico toma mosteiro e cristãos são expulsos de Mosul

Compartilhe nas redes sociais

Compartilhar no facebook
Facebook
Compartilhar no whatsapp
WhatsApp
Compartilhar no twitter
Twitter
Compartilhar no telegram
Telegram

Por Assessoria de Imprensa| 23.07.14| Militantes jihadistas do Estado Islâmico, IS, (anteriormente denominado ISIS) invadiram, no passado domingo, Mar Behnam, um mosteiro do século IV pertencente à  Igreja Católica Siriana, perto da cidade predominantemente cristã de Qaraqosq, e expulsaram os monges que aí viviam.

“Não têm mais lugar aqui, têm que sair imediatamente”, disseram os militantes radicais sunitas, citados por um membro do clero que estava presente no mosteiro.

No relato deste sacerdote, os monges tentaram ainda salvar algumas das relíquias do mosteiro, mas os extremistas não o permitiram, tendo abandonado o local a pé e apenas com as roupas que traziam vestidas.

Segundo a agência AFP, os monges caminharam vários quilômetros por uma estrada até serem resgatados por combatentes curdos que os levaram para Qaraqosh, localidade que tem acolhido grande parte dos cristãos em fuga de Mosul.

Esta cidade, a segunda mais importante do Iraque, registou, no último fim de semana, a partida de mais algumas famílias cristãs.

Os cristãos abandonaram as suas casas e tudo o que possuíam perante o fim do ultimato imposto pelo IS para que se convertessem ao islamismo ou pagassem um imposto especial que lhes garantiria proteção. Os que não o fizessem teriam de “enfrentar a espada”.

Esta intolerável violência foi também denunciada nas últimas horas por dom Louis Sako, Patriarca católico caldeu de Bagdade, que lançou uma mensagem “aos que têm uma consciência viva do Iraque”, em que inclui “os irmãos muçulmanos moderados”, os que têm “a preocupação de que o Iraque possa continuar a ser um país para todos os seus filhos”, para os “líderes do pensamento e de opinião”, e para os “protetores da dignidade dos seus humanos e da religião”.

Nessa mensagem, a que a Fundação AIS teve acesso, o prelado faz uma breve resenha dos acontecimentos no seu país, em especial em Mosul e na região controlada pelos radicais do Estado Islâmico, sublinhando o ultimato dado aos cristãos que os obrigou a abandonar todos os seus haveres.

Por causa da versão extremista da lei islâmica que está a ser implementada, “após a partida dos cristãos, as suas casas são imediatamente confiscada tornando-se propriedade do Estado islâmico”, confirma Dom Sako.

O Patriarca denuncia ainda a “violação” e “contradição” do “pensamento islâmico” que está a ser imposto no Iraque e que vem deitar por terra a “coexistência entre maiorias e minorias” religiosas laboriosamente desenvolvidas ao longo de anos.

Dom Louis Sako afirma que esta discriminação, que está a ser legalmente imposta, “vai ser muito prejudicial para os próprios muçulmanos”, tanto agora como no futuro. “Se continuar a perseguição”, diz, “o Iraque vai enfrentar uma catástrofe histórica”.

Entretanto, prosseguindo a campanha para o afastamento dos cristãos da região, foi cortado o fornecimento de água potável nos distritos de Al Hamdaniya, Bashika e Bartala, na região de Mosul, e habitados na sua maioria por cristãos e muçulmanos xiitas.

Este corte foi justificado como um castigo aos cidadãos “infiéis” que, por causa da sua religião, não juraram fidelidade a Abu Bakr al Bagdadi, o líder máximo do auto-proclamado “califado islâmico” nas regiões que o movimento controla no Iraque e na Síria.

Tal como já tinha acontecido com o Papa Francisco, esta situação de perseguição religiosa à comunidade cristã motivou também
uma posição muito crítica do secretário-geral da ONU.

O domingo passado, Ban Ki-moon afirmou que a perseguição aos cristãos em Mosul deve ser “considerada como um crime contra a humanidade” e que os seus autores “devem prestar contas”.

O Bispo Auxiliar caldeu de Bagdá, Dom Saad Syroub, falou à Rádio Vaticano sobre o apelo do Papa feito no último domingo.

Dom Syroub: “O apelo do Papa veio no momento justo, pois são realmente perseguidos. São expulsos de suas casas, de seu território, da sua cidade, somente porque são cristãos! Uma pessoa é, portanto, maltratada e perseguida pela sua religião, pela sua confissão”.

RV: Estas famílias cristãs, onde se encontram agora?

Dom Syroub: “Algumas foram para o norte, em direção ao Curdistão; outras para Erbil; outras ainda para os povoados cristãos da Planície de Nínive. Assim, estas famílias se encontram em vários lugares atualmente. Estão em uma situação muito difícil, porque não têm nada: foram roubados seus carros, dinheiro, casa, trabalho. E não podem voltar. Portanto, a situação é muito crítica; é necessária uma intervenção urgente para ajudar tais famílias a superar esta tragédia, este sofrimento”.

RV: Eles souberam das palavras do Papa Francisco?

Dom Syroub: “O sofrimento é tão grande nos seus corações, nas suas casas, hoje, que às vezes não escutam todas as notícias…”

RV: Assim, através de vocês,  receberão estes pensamentos do Papa…?

Dom Syroub: “Certamente. A nossa é uma responsabilidade como sacerdotes, bispos, autoridades. O nosso patriarca fez mais de um apelo para acalmar a situação, que porém, é muito crítica”.

RV: Nos últimos dias foi queimada a sede episcopal dos sírio-católicos em Mosul. Também em Qaraqosh o mosteiro foi ocupado pelos jihadistas…

Dom Syroub: “Mais de um mosteiro foi derrubado por estes grupos, que expulsaram os monges. Tomaram o Mosteiro de São Jorge, a Casa das Irmãs do Sagrado Coração, o Mosteiro dos dominicanos, o mosteiro dos sírio-católicos, que se encontravam todos em Mosul”.

RV: “A violência se vence com a paz”, disse o Papa. Como ecoam estas palavras no Iraque?

Dom Syroub: “Nós levamos com responsabilidade as palavras do nosso Papa, porque são palavras do Evangelho. Nós todos somos portadores e construtores de paz; queremos trabalhar e viver em paz com todos os nossos concidadãos. Porém, infelizmente, este fanatismo que cresceu no nosso país torna mais difícil a convivência pacífica entre as pessoas e nós queremos trabalhar neste sentido. Fizemos tantos apelos. Ontem teve um encontro em Bagdá entre muçulmanos e cristãos; sempre temos estes contatos com a comunidade moderada. Temos relações, temos amigos que sabem que tudo isto é errado. Certamente nós cultivamos estas relações pacíficas, para construir uma convivência social mais justa para todos”. (JE)

Fonte:  PA | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt/radiovaticano.va

Publicações recentes