Conferência da Nicarágua se pronuncia sobre conflitos no país

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Manágua, 21 de maio de 2018

A TODOS OS RELIGIOSOS E RELIGIOSAS!

Queridos Irmãos e queridas Irmãs da CLAR e das Conferências de Religiosos e Religiosas Nacionais!

No momento em que se escreve esta carta, já se iniciou o Diálogo Nacional em que a Conferência Episcopal da Nicarágua atua como Mediadora e Testemunha, e já está presente no país o CIDH (Comissão Interamericana de Direitos Humanos) fazendo as investigações “in situ” (no local).

Isto acontece quando se passou mais de um mês o início das mobilizações pacíficas dos estudantes universitários que levantaram todo o país. Também, no momento em que se escreve esta carta, o acordo do fim da repressão, conseguido no Diálogo Nacional, não foi cumprido, e a CIDH apresentou sua primeira avaliação preliminar, (à espera do Documento Final que levará um tempo ainda para ser publicado), no qual se reconhecem os graves fatos que ocorrem na Nicarágua contra os Direitos Humanos.

Alguém nestes dias disse: “há décadas em que não acontece nada, e semanas em que acontece de tudo”. E o “tudo” na Nicarágua começou em 18 de abril. Há dias que o país vive um grande incêndio em uma reserva natural “Indio Maíz”, e o governo atua devagar e não aceita nenhuma ajuda internacional. São os estudantes, com sua consciência ecológica, que dão voz de alerta.

Há dias fez-se pública uma reforma do Instituto Nicaraguense de Segurança Social – INSS, que, além de aumentar as contribuições de pessoas e empresas, diminuiu as pensões dos aposentados.

Esta reforma se realizou de maneira unilateral pelo governo, sem um diálogo prévio com os representantes da empresa privada e outras instituições. Os estudantes – autoconvocados por meio das redes sociais – estão saindo às ruas pedindo que se invalide a reforma, e estes plantões estudantis são reprimidos pela polícia com uso desmedido de força. A polícia dispara… e morrem nossos jovens estudantes…

Os estudantes da UCA  e da UNI se refugiam na catedral de Manágua, que se tornou um lugar de apoio de água, alimentos e suprimentos médicos. Os estudantes da UNA e da UPOLI se refugiam em suas universidades, noite após noite, e são atacados pela polícia e forças paramilitares formadas por membros da juventude Sandinista e do partido do governo. Também a UNAN está tomada pelos estudantes. Os feridos não são atendidos em hospitais públicos e as mortes dos jovens e civis acontecem dia a dia. Os canais de comunicação não-oficiais são censurados e começaram as detenções e desaparecimento de jovens.

Paralelo a isto, são mantidas cada dia mobilizações e plantões na cidade de Manágua e outras cidades do país. Levantam-se barricadas ao redor das universidades e tanques nas principais rodovias. O movimento camponês anti-canal saiu às ruas em apoio aos estudantes e, diante da forte repressão policial, a iniciativa privada tomou partido a favor dos estudantes e pede o fim da repressão.

A Igreja, na voz dos pastores, esteve desde o início próxima dos jovens, acompanhando-os e pedindo publicamente ao Governo o fim da repressão em várias ocasiões. No transcorrer do tempo e com o aumento das mobilizações pacíficas, a repressão policial aumentou: Masaya, Granada, Matagalpa, Juigalpa… conhecem noites de disparos e de dor… Hoje sabemos que há, confirmadas pelo CIDH no Documento de seus Obervadores Preliminares, “76 pessoas mortas, 868 pessoas feridas  no contexto dos protestos, e destas últimas, cinco permanecem nos hospitais.  Da mesma forma, 438 pessoas foram detidas entre estudantes, civis, defensores dos direitos humanos e jornalistas.

Os estudantes – autoconvocados – levantaram o país cansado da corrupção. Um país em que os funcionários públicos são levados às ruas, em suas horas de trabalho e forçados a cantar slogans, a rezar ou a cuidar de espaços públicos, para que outras pessoas não se encontrem nesses mesmos espaços. Um país onde a Democracia foi lentamente morrendo… Os estudantes romperam o silêncio, nos levantaram. Já não se trata do incêndio de “Indio Maíz” ou da Reforma do INSS, trata-se da Nicarágua.

Os bispos em sua carta de 11 de maio ao Presidente da República expressaram sua preocupação diante dos acontecimentos do país, e acolheram o convite de serem mediadores e testemunhas no Diálogo Nacional.

 Na carta, pedem alguns passos prévios para garantir o diálogo:

  1. O ingresso no país da CIDH para investigar e esclarecer as mortes e desaparecimentos.
  2. O fim da repressão por parte da Polícia Nacional e corpos paramilitares.
  3. Garantir a segurança física dos estudantes, dos diversos ativos que farão parte da mesa do diálogo e de todos os cidadãos.
  4. Não obrigar os funcionarios públicos de participarem de atos partidários.

Tudo isso como sinais da vontade de diálogo por parte do Governo (Mensagem da Conferência Episcopal ao Presidende do Governo, 11 de maio de 2018).

Inseridos nesta realidade, os Religiosos e Religiosas da Nicarágua participamos em algumas mobilizações, especialmente na Pregrinação convocada pelos bispos em 28 de abril. Estivemos próximos aos jovens; reunimo-nos para rezar e refletir sobre a realidade; enviamos nosso apoio aos bispos em sua tarefa de Mediadores e Testemunhas do diálogo; mantivemo-nos em contato com a FENEC (Federeção Nicaraguense de Escolas Católicas). Nossos irmãos religiosos junto com os sacerdotes do clero saíram às ruas para proteger os estudantes, chegando inclusive a postar-se na frente da polícia, como escudo humano, quando os policiais estavam disparando.

Como fermento na massa, acompanhamos, dialogamos, consolamos, geramos reflexão em torno da realidade, formamos consciência crítica… cada um e cada uma aí onde serve diariamente.

Queridos Irmãos, queridas Irmãs da CLAR e das Conferências de cada país! Esta é nossa realidade, este é nosso momento histórico, isto é o que podemos partilhar hoje… O caminho do diálogo é inseguro, porém queremos crer e apostamos que é o caminho para conseguir a democracia no país.

Pedimos-lhes que nos acompanhem, que acompanhem este nosso povo e a nossa Igreja, com suas orações e proximidade de Imãos e Irmãs.

CONFER-Nicarágua

Apdo. 2934 Telefax: 22684792, E-mail: confernicaragua@gmail.com

Manágua – Nicarágua

 

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