Católicos em festa com a canonização de dois Papas

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G1, em Sâo Paulo| 26.04.14| Cerca de 800 mil peregrinos são esperados em Roma neste fim de semana para a cerimônia de canonização dos papas João Paulo II e João XXIII, que será realizada a partir das 10h locais (5h de Brasília) na Praça São Pedro, no Vaticano. A canonização dupla será especial por reunir em um único evento a “presença” de quatro Papas – os dois que serão canonizados, o Papa Francisco, e o Papa emérito Bento XVI, que estará presente.

Os dois futuros santos estão tão próximos no tempo que suas causas se entrelaçam, até o ponto de o segundo deles, João Paulo II, ter sido o encarregado de decretar as “virtudes heroicas” e a beatificação de João XXIII. Juntos, eles simbolizam a abertura para o mundo e a confiança de ser católico: faces complementares nas quais o Papa Francisco se reconhece.

Ambos os pontífices, cuja bondade e carisma fizeram com que após sua morte fossem solicitadas suas beatificações por aclamação, atravessaram nos últimos anos um complexo processo de canonização, requisito “sine qua non” para se tornar um santo católico.

João Paulo II será canonizado apenas nove anos após sua morte, em 2005. O segundo milagre atribuído ao polonês Karol Wojtyla, que nasceu em 1920 e liderou a Igreja Católica entre 1978 e sua morte, foi reconhecido pelo Vaticano em julho do ano passado.  Já João XXIII, que foi papa entre 1958 e 1963, será canonizado com apenas um milagre comprovado.

A cerimônia de canonização terá os mesmos moldes de uma missa e será mais simples, sóbria e sem extravagâncias, segundo o Vaticano. Em 2011, a beatificação de João Paulo II, feita por Bento XVI, durou três dias e custou cerca de US$ 1,65 milhão, reunindo 1,5 milhão de fiéis na praça e arredores, segundo a polícia de Roma.

O Papa Francisco chegará à praça com uma procissão ao ritmo da ladainha dos santos. E, diante dos gigantes retratos dos dois papas exibidos na fachada da Basílica do Vaticano, pronunciará as palavras que ficarão gravadas para sempre no “registro celestial”, daqueles a que todos os católicos são convidados a orar pedindo ajuda para sua vida terrena.

Francisco concelebrará uma missa solene com cinco prelados, entre eles o bispo de Bergamo (cidade natal de João XXIII), Francesco Beschi, e o ex-secretário particular do papa João Paulo II e arcebispo de Cracóvia, Stanislaw Dziwisz.

Religiosa polonesa segura imagem do Papa João Paulo II, neste sábado (26), em frente ao Vaticano (Foto: AP Photo/Emilio Morenatti)

As autoridades locais estimam que até 3 milhões de pessoas possam ir ao Vaticano neste domingo – entre moradores locais e os 800 mil peregrinos que devem viajar até Roma. Os poloneses – conterrâneos de João Paulo II, devem ser os estrangeiros mais numerosos. Trens especiais foram colocados em circulação para a viagem desde a Polônia.

Até agora, foi confirmada a presença de 19 chefes de Estado, 24 primeiros-ministros e 23 ministros de diversos países, segundo o governo italiano.

A cerimônia será realizada do lado de fora da Basílica de São Pedro, para que mais pessoas possam participar. Telões serão espalhados na Praça e pela cidade de Roma, que  terá um esquema especial de trânsito para a celebração, com bloqueio de ruas e reforço nos transportes públicos.

A entrada será liberada e gratuita, sem a necessidade de ingresso – os fiéis terão que passar apenas por detector de metais, algo normal nas grandes celebrações na Praça São Pedro.

Vigília
A celebração dos novos santos começa já na noite deste sábado (26), a partir das 21h locais, quando será realizada a chamada “noite branca de oração”. Diversas igrejas no centro de Roma ficarão abertas para aqueles que quiserem rezar e se confessar.

No domingo, após a canonização, a Basílica de São Pedro ficará aberta em um esquema especial, até 1h de segunda-feira (28). Os peregrinos poderão visitar o túmulo dos dois papas, no subsolo da igreja.

Processo 
A primeira etapa da canonização é ser reconhecido Servo do Senhor. Para isso, os postuladores da causa apresentam um relatório à Santa Sé, que, após examiná-lo, tem que emitir o decreto “Nihil Obstat”.

Papa João Paulo II visita a cidade de Porto Alegre em 1980 (Foto: Alfredo Rizutti/Estadão Conteúdo)

Com este decreto, é iniciado oficialmente o processo, e o postulante é nomeado Servo do Senhor. O processo de João XXIII foi aberto em 1965, dois anos após sua morte, enquanto o do pontífice polonês começou no ano de seu falecimento, em 2005, por desejo expresso de seu sucessor, Bento XVI, que eliminou o requisito canônico de se esperar cinco anos após a morte para o início do trâmite da causa.

A etapa seguinte consiste em reconhecer suas “virtudes heroicas”, um título que os transforma em Veneráveis Servos do Senhor.

Para que isto ocorra, uma comissão jurídica do Vaticano se reúne para estudar a ortodoxia dos textos que publicaram em vida e para analisar os testemunhos de pessoas que os conheceram.

Em seguida, o relator do processo, nomeado pela Congregação para a Causa dos Santos, elabora um documento denominado “Positio”.

Um compêndio dos relatos e dos estudos realizados pela comissão, assim que aprovado pelo pontífice, concede o título de Venerável Servo do Senhor, o segundo passo em direção à santidade.

João XXIII tornou-se Venerável em 1999, mais de três décadas após sua morte, enquanto João Paulo II obteve o título em 2009, quatro anos depois de seu falecimento.

Milagres
Após serem considerados Veneráveis, o passo seguinte é o da beatificação. Ser beato, ou bem-aventurado, significa representar um modelo de vida para a comunidade e, além disso, que essa pessoa tem a capacidade de agir como intermediário entre os cristãos e Deus.

Por esta razão, para alcançar este grau, é imprescindível o testemunho de um milagre que tenha sido realizado graças à intercessão do Venerável.

Foto de 15 de abril de 1963 mostra o Papa João XXIII em sua mesa de trabalho no Vaticano (Foto: Luigi Felici/AP)

Ao papa italiano foi atribuída em 2000 a cura da religiosa italiana Caterina Capitani, que esteve a ponto de morrer por uma perfuração gástrica hemorrágica com fístula externa e peritonite aguda. Ela conta que, após pedir um milagre a João XXIII, conseguiu sobreviver.

Já ao papa polonês são atribuídas centenas de milagres, embora para sua beatificação, em 2011, tenha sido imprescindível o caso da freira francesa Marie Simon Pierre, que sofria de Parkinson (a mesma doença que João Paulo II tinha) e cuja cura, de acordo com os médicos externos convocados pelo Vaticano, “carece de explicação científica”.

Com estes milagres realizados por intercessão divina dos pontífices tendo sido aprovados, João XXIII e João Paulo II subiram oficialmente aos altares como beatos da Igreja Católica, o primeiro em 2000, e o segundo, em 2011.

Depois disso, ainda é preciso passar por mais uma fase para encerrar o complexo processo.

Trata-se da canonização, sua proclamação como santos, para a qual é requisito imprescindível um novo milagre, que deve ocorrer após sua nomeação como beatos. É aqui onde se dá outra particularidade que caracteriza a causa de João Paulo II e João XXIII.

No caso do italiano, o Papa Francisco, em 2013, decidiu canonizá-lo sem ter sido certificado o  segundo milagre. A decisão do Papa de canonizar João XXIII sem registro de milagre, algo não muito frequente nas últimas décadas, é uma prerrogativa do chefe da Igreja, segundo as normas do Vaticano.

Já João Paulo II, intercedeu, segundo a Igreja, na cura de uma mulher costarriquenha que sofria de um grave aneurisma cerebral e que, segundo os médicos, tinha apenas um mês de vida.

Esta mulher, Floribeth Mora Díaz, que participará da cerimônia deste domingo, garante ter ouvido a voz do papa polonês afirmando: “Levante-se, não tenha medo”, quando estava internada em um hospital. E após ouvir estas palavras, começou seu processo de cura, inexplicável para a ciência.

Mulher passa por pôsteres e cartões postais com a imagem do Papa João Paulo II em Roma (Foto: Stefano Rellandini/Reuters)

 

 

 

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