“A misericórdia, mais que sentimentos, é uma questão de justiça social”, afirma presidente da CNBB

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Por Rosinha Martins| 04. 04. 2016 | O presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Sérgio da Rocha, marcou a Assembleia Geral Ordinária da CRB Nacional – Conferência dos Religiosos do Brasil com o aprofundamento do tema da Misericórdia, na manhã desta segunda, 04.

O que chamou a atenção do grupo e o instigou para a reflexão e questionamentos foi a relação que o arcebispo fez da misericórdia com a questão da justiça social.

Misericórdia e justiça social

Dom Sérgio disse que ao refletir sobre o tema, a Igreja como um todo precisa tomar cuidado para não reduzir a misericórdia a sentimentos, pois esta vai muito mais além. “Para isso é necessário retomarmos o sentido eclesial e bíblico de jubileu, apresentado nos livros do Êxodo, 20, Deuteronômio 15 e Levítico 25.

O jubileu se refere ao sétimo ano de sete anos sabáticos. De acordo com Dt 15,1-2 , o ano sabático, se refere ao perdão das dívidas dos israelitas. A ideia era evitar o empobrecimento do povo, uma questão de justiça social. Dt 15,12 fala da libertação, no sétimo ano, de todo israelita que estivesse trabalhando como escravo, para pagamento de uma dívida. Em Lv 25,1-7 o ano sabático é um sábado de descanso para a terra, que acontece de sete em sete anos.

O descanso da terra se assemelha ao descanso dos seres humanos no mesmo dia em que Deus descansou para contemplar sua criação, o sétimo dia, ou seja o sábado. E a trombeta era tocada para que todos se lembrassem de vivenciar com seriedade aquele ano.

Assim, o ano sabático tinha três grandes exigências: propor a libertação e, a partir daí, um novo começo de vida; o descanso, tanto da terra que precisava descansar para bem produzir quanto o homem e o perdão das dívidas.

O arcebispo mencionou o documento Misericordiae Vultus no qual o Papa Francisco cita a passagem de Lucas 4 em que Jesus se apresenta na sinagoga e anuncia que veio para libertar os oprimidos, para dar vistas aos cegos e proclamar o Ano da graça do Senhor. Francisco traduz o ano da graça como ano jubilar. “Não podemos excluir do Ano Jubilar da Misericórdia, a questão da justiça social que conclama a um novo jeito de viver, se organizar em vista da construção do Reino.

“A Igreja precisa atentar para a causa dos imigrantes”

Ao falar sobre as obras de misericórdia corporais e temporais, dom Sérgio chamou a atenção da Assembleia para a causa das migrações como uma situação com a qual a Igreja como um todo e a Vida Consagrada precisa estar atentas. E lamentou a situação das centenas de imigrantes que chegam em sua arquidiocese. “São tantos os migrantes e imigrantes em nosso país, cuja presença é ainda invisível. É preciso que a Igreja esteja atenta a isso. Em Brasília temos uma grande quantidade de imigrantes e quando tratamos do assunto, há quem o negue. Lembrou o caso das dezenas de imigrantes de Bangladesh na cidade satélite de Samambaia que vivem em situação de exclusão. “E há membros do serviço público que insiste em negar esta realidade. Em minhas visitas pastorais encontrei um grande número deles pela cidade”, frisou.

A saúde pública

Como uma das obras de misericórdia é o cuidado ao doentes, dom Sérgio lamentou problemática da saúde pública no DF. “Às vezes no habituamos com as situações que nos circundam, mas é importante e necessário olharmos para essa gente que chora nas filas dos prontos socorros. Choram não só pela dor física, mas também pela dor de não serem atendidos. Como arcebispo, no momento que precisei da saúde pública, não tive os devidos atendimentos, embora agradeça aqueles que me cuidaram…imaginem os outros”, questionou.

A dimensão comunitária da misericórdia

A Encíclica de Bento XVI “Deus caritas est”, recordou dom Sérgio, convoca a Igreja a vivência comunitária da caridade, da misericórdia. “Não basta o que cada um sente e faz espontaneamente mas pensar de maneira organizada a caridade. Isso é um critério para o julgamento narrado em Mt 25 ss. Quem vive assim é feliz, lembra o texto com a expressão ‘benditos de meu Pai, gente bem-aventurada'”.

Dom Sérgio alertou os consagrados e consagradas a se cuidarem para que a misericórdia não se reduza a uma questão intimista ou conventual. “A misericórdia precisa ir para além dos muros dos conventos. É importante que seja exercitada na comunidade, mas deve avançar para a dimensão social.

Comentou, ainda, que é preciso que o ano da misericórdia ceda lugar ao bom samaritano. Ele é a resposta para o sofrimento. “O mundo de hoje precisa de bons samaritanos e samaritanas que, através da caridade estendam a mão aos que sofrem, que estão em situações difíceis. A Vida Consagrada tem um papel fundamental dentro da Igreja samaritana”.

A Igreja diante do contexto sócio-político

Respondendo aos questionamentos da assembleia sobre a postura da Igreja e seu papel diante do atual momento político, dom Sérgio afirmou que a Igreja está atenta e mantém uma postura de constante diálogo com as instituições e grupos políticos afins, de maneira imparcial. “Temos insistido, – em todas as conversas e notas lançadas sobre o momento que estamos vivendo – sobre o combate à corrupção, que esta não aconteça nem no cotidiano dos brasileiros, nem na política; que não haja violência em casa, nas redes sociais e nas ruas; o diálogo; o respeito ao outro, ao diferente; o respeito à ordem constitucional.

Por fim, o presidente da CNBB pediu aos consagrados que se unissem em oração pela Igreja do Brasil pois a Conferência dos Bispos tem vivido momentos difíceis, de agressões expressas claramente em razão da realidade política, mas ela não pode se omitir. “Temos ouvido de autoridades que a Igreja Católica é a única instituição que ainda consegue dialogar com todas as partes, de forma imparcial”.

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