200 anos do nascimento do Beato Luís Brisson, fundador dos Oblatos de São Francisco de Sales

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Por Pe. Nildo Moura de Melo, OSFS

Quando uma criança é concebida os sonhos de Deus ganham traços humanos. Vamos apresentar a vocês a história de um homem que alcançou o mundo a partir da fé e do seu trabalho e que neste ano de 2017 celebramos 200 ANOS DE SEU NASCIMENTO. Seu nome é Luís Brisson, padre e fundador da Congregação dos Oblatos de São Francisco de Sales. Em nossa diocese, os Oblatos estão nas paróquias de Jaboticaba, Novo Barreiro e Palmeira das Missões. Em Jaboticaba também está a casa do Noviciado.

Luís Brisson nasceu em Plancy, França, no dia 23 de junho de 1817, sendo filho único de um casal de comerciantes ambulantes. Foi ordenado sacerdote no dia 19 de dezembro de 1840 na diocese de Troyes, França. Trabalhou inicialmente como professor de matemática e ciências no seminário. Depois assumiu como capelão[1] no mosteiro[2] da Visitação de Troyes, permanecendo nesta função de outubro de 1843 a julho de 1884. A Visitação é uma ordem Religiosa contemplativa feminina fundada por São Francisco de Sales e Santa Joana de Chantal em 1910, em Annecy, na França.

Foi neste mosteiro de Troyes que algo incomum lhe ocorreu. Vinha através da superiora, a Madre Maria de Sales Chappuis, uma religiosa com fama de santidade e de grande sabedoria, conhecida como Boa Madre. Ela apresenta-lhe o projeto de fundar uma Congregação de sacerdotes no espírito de São Francisco de Sales. Essa proposta que não agradou padre Brisson, homem dado sempre a coisas muito práticas. Ele recusou veementemente, e por trinta anos. Nem imaginava que a referida Madre sabia bem insistir e persistir, ainda mais quando ela via a vontade de Deus naquilo que pedia.

Era uma época difícil. A França estava passando pela Revolução Industrial. Centenas de jovens vinham do interior para as grandes cidades em busca de trabalho nas fábricas. Uma vez nas cidades, ficavam à mercê de situações nocivas, às vezes eram explorados, sem família, sem lugar adequado para ficar, sem alguém que defenda seus direitos, sem uma instrução educacional e religiosa.

Padre Brisson é sensível a esta situação e faz algo para ajudar. Ele tinha sido, em 1858, nomeado diretor diocesano da Associação de São Francisco de Sales para a defesa da fé num país cristão. Faz uso dessa função para ajudar, primeiramente, as jovens operárias,abrindo patronatos[3] e lares para acolhê-las, ampará-las e instruí-las. O trabalho cresceu e Deus mostrou a ele o momento certo de iniciar uma congregação de Irmãs: nasce as Oblatas de São Francisco de Sales, com a ajuda de duas ex-alunas da Visitação, a senhorita Leonie Aviat e a senhorita Lucie Canuet (1868). As Oblatas abrem oficinas de costura em Troyes e outras cidades. Depois fundam escolas primárias e secundárias e lares para moças. As religiosas estendem-se, pouco a pouco, para a Áustria, Itália, Suíça, Inglaterra e, depois, para as missões do Rio Orange (África), do Equador e do México. Leonie Aviat, a primeira superiora, foi canonizada pelo papa João Paulo II em 2001. Seu dia no calendário litúrgico é 10 de janeiro.

Tudo ia bem, mas a congregação masculina ainda não havia surgido. A Boa Madre insistia com o Padre Brisson. Ele sempre recusava. Pediu a Deus várias provas para saber se o que a Madre pedia era realmente vontade divina. Até que um dia, conta-nos ele, o próprio Jesus apareceu-lhe. Ele estava no locutório das Irmãs (parte em que as religiosas conversam com as pessoas, separadas por uma grade) e havia negado novamente ao pedido da Boa Madre. Sussurrou para ela: “nem que um morto ressuscite, eu realizarei o que a senhora me pede”. A madre levantou-se e saiu, enquanto o padre ficou ali, parado, refletindo suas próprias palavras: “Depois de uns sete minutos, levantei os olhos e vi o Senhor parado do outro lado da grade, a uma distância de uns dois metros de mim. A minha primeira reação foi uma sensação de resistência. ‘Agora acabou. Agora tenho que ceder.’ A minha resistência aumentou: ‘Talvez seja uma ilusão’. E comecei a observar a figura detalhadamente. Comecei debaixo, com os pés e as sandálias. De início, não me animei mirar diretamente os olhos. Estudei-o com precisão, como um pintor observa seu modelo minuciosamente. Eu não queria ser enganado. Queria constatar que o que vi com os olhos era uma realidade. Devagarzinho meu olhar subia. Finalmente fitei o Senhor no rosto. Ele não disse nada, mas me olhou com o aspecto um pouco severo e descontente; e eu não pude duvidar de que Ele me pediu que eu fizesse o que a Boa Madre me dizia. Atirei-me de joelhos e consenti, sem dizer uma palavra ou fazer um gesto. Experimentei uma profunda paz e uma grande calma. Todo o tempo me senti bem tranquilo. A aparição se esvaeceu”.

A partir daí não havia mais como resistir. Encarregado, em dezembro de 1868, de reabilitar o colégio eclesiástico de Troyes, o Padre Brisson reconheceu, nesse fato, o sinal aguardado para a criação da comunidade de sacerdotes e fundou os Oblatos de São Francisco de Sales (1875). Ele fez nascer os Oblatos num contexto operário deixando-lhes claro: “Nossa condição é a de pobres operários. Andamos vestidos, nos alimentamos como pobres obreiros”. Entregou a eles o espírito de São Francisco de Sales como característica principal e genuína. Esta doutrina está baseada na íntima união com Deus em todos os lugares e momentos, praticando sempre a humildade para com Deus e mansidão para com o próximo, fazendo TUDO POR AMOR e reimprimindo o Evangelho onde Deus os plantar, no mundo tal qual é.

Padre Brisson quis fortalecer as associações de trabalhadores e promover a educação, indo além do patronado onde fora sempre atuante. No que diz respeito à educação dos jovens operários, Brisson aplicou o método salesiano: “educação baseada no respeito pela pessoa, o sentido da sua liberdade e formação de sua responsabilidade”. É a libertação e dignidade do ser humano que o Bom Padre está promovendo e defendendo como profeta de seu tempo para a Igreja e para a sociedade (o mundo).

Depois de ter fundado diversos colégios e patronatos na França, os Oblatos estenderam-se para a Áustria, Alemanha, Inglaterra, Grécia; abraçaram missões na África do Sul, como também em ambas as Américas. No Brasil chegaram em 1885, no Pará, ficando apenas dois anos, pois as autoridades brasileiras, num desentendimento com a Santa Sé, exigiram a retirada das Congregações. Em 1906 os Oblatos voltaram ao Brasil, em Dom Pedrito – RS. Depois se estenderam para várias cidades da região.

Padre Luís Brisson enfrentou muitas dificuldades, inclusive a da dispersão das Ordens Religiosas na França, em 1903. Nesta época, impedido pela idade avançada, retirou-se para Plancy onde faleceu de maneira edificante, no dia 2 de fevereiro de 1908, com 90 anos de idade.A Igreja reconheceu suas virtudes beatificando-o em 22 de setembro de 2012. Sua festa litúrgica como beato é celebrada no dia 12 de outubro, dia da fundação dos Oblatos de São Francisco de Sales. Padre Brisson foi um homem de fé e ação. Deu ao sonho de Deus traços humanos ao cuidar das pessoas em dificuldades. Deus sonha com a felicidade de todo ser humano, de toda a Criação. Este padre de quem falamos esforçou-se para que esta felicidade fosse concreta na vida do povo de seu tempo, em especial do operários e operárias. Foi homem de fé, esperança e caridade, e continua a inspirar muitas pessoas pelo mundo a viverem o bem acima de tudo. Os Oblatos o seguem como seu fundador e inspirador. Onde estão os padres e irmãos Oblatos de São Francisco de Sales está também padre Brisson que ousou sonhar e concretizar o sonho de Deus como lhe era possível.

[1]Sacerdote responsável pelos ofícios religiosos do Mosteiro.

[2] Um mosteiro é um edifício de habitação, oração e trabalho de uma comunidade de monges ou freiras, e que é construído fora da malha urbana de uma cidade.

[3] Instituição de assistência onde se abrigam e educam menores.

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